A polêmica sobre pedágios urbanos
O entrevistado deste mês é o doutor em engenharia civil Antônio Clóvis Ferraz, mais conhecido como professor Coca, da Escola de Engenharia de São Carlos – USP. Ele comenta a última pesquisa realizada pela Abramcet Synovate Brasil sobre um assunto polêmico: a implantação de pedágio urbano. O levantamento foi feito em outubro e entrevistou 1500 pessoas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre, Curitiba e mais quatro cidades do interior de São Paulo.
Apesar da maior parte dos entrevistados da pesquisa Abramcet não ter muito conhecimento sobre pedágio urbano, 43% afirma que a idéia é ruim ou péssima. O que isso revela?
Uma grande falta de conhecimento dos benefícios do pedágio para a melhoria da qualidade de vida da população nas grandes cidades. Isso indica como vital, antes de qualquer iniciativa de implantação do pedágio urbano, a realização de um forte trabalho de marketing visando “informar e convencer” sobre as vantagens da medida.
Talvez até por esta falta de conhecimento 36% dos entrevistados afirmaram que não há nenhum benefício. Entretanto, 31% afirmou que reduzir o fluxo de veículos no centro seria o principal benefício. O sr. concorda com esta afirmação?
A redução do fluxo de veículos no centro seria uma conseqüência do pedágio. Os benefícios diretos associados seriam muitos: redução de tempos de viagem, diminuição da contaminação atmosférica, maior descentralização de atividades a médio e longo prazo, maior utilização do transporte coletivo, etc. Considerando a aplicação dos recursos auferidos com o pedágio no transporte coletivo, soma-se a esses ganhos um grande beneficio indireto: um transporte coletivo de melhor qualidade e mais barato – fato de grande relevância social, ambiental e econômica. Isso significa caminhar rumo a cidades sustentáveis e com melhor qualidade de vida.
E quais seriam as desvantagens deste projeto para o Brasil?
A implantação de pedágios urbanos obriga muitas pessoas a mudar os seus hábitos e pode impactar negativamente o comércio da região central - nada tão grave que não possa ser amenizado com ações públicas corretas. As vantagens, no entanto, superam em muito as desvantagens.
Quais são as cidades brasileiras que já tem perfil para esta medida?
Em um primeiro momento, São Paulo e Rio de Janeiro. Depois da experiência adquirida nessas metrópoles, a medida poderia ser estendida a outras grandes cidades do país.
Como estão as experiências em cidades que já possuem o pedágio urbano?
As experiências pioneiras das cidades de Cingapura e Londres que, como era esperado, tiveram uma relativamente forte rejeição inicial, hoje podem ser consideradas bastante satisfatórias.
O que precisaria ser feito para incentivar o uso de transporte público e, conseqüentemente, diminuir o número de veículos nas vias?
Melhorar a qualidade do transporte coletivo (sobretudo a velocidade, com faixas exclusivas para os ônibus) e reduzir o valor da tarifa - com o aumento da eficiência e concessão de subsídio. A maioria das cidades dos paises desenvolvidos subsidia o transporte público, em razão das inúmeras vantagens desse modo de transporte em relação ao transporte individual.
(A entrevista foi feita pela Perkons, empresa de fiscalização eletrônica, em Curitiba.)
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